Este site não pertence à Igreja Católica da realidade. Somos uma representação dela no Habblive Hotel, sem compromisso com a realidade.

Carta "Finis Missionis Ministerialis" | Decanato do Colégio Cardinalício

 

DOM GABRIEL SOUZA CARDEAL GIOVANELLI
DEI MISERICORDIA ET SANCTAE APOSTOLICAE SEDIS
CARDINALIS EPISCOPI OSTIENSIS ET SANCTAE LUCIAE
SACRI COLEGII CARDINALIS DECANI CARDINALIS

________.__.________

CARTA
FINIS MISSIONIS MINISTERIALIS
(Fim da missão Ministerial)


Vaticanum, die 22  Novembris 2023

O Decanato do Sacro Colégio Cardinalício, na pessoa do Decano;
Dom Gabriel Souza Card. Giovanelli

DESEJA QUE SE SEJA PROCLAMADO

A todos os Cardeais  e mebros da Cúria Romana que desempenham sua missão,
A todo o clero e povo de Deus.

MINHA SAUDOSA SAUDAÇÃO E BÊNÇÃO

Beatissímo Pai, veneravéis irmãos cardeais;

    Só uma palavra, entre tantas, sobe imediatamente aos Nossos lábios no momento de Nos apresentarmos a vós depois de um longo percurso, desde 2009, no orbe virtual, é palavra que faz ressaltar, pelo evidente contraste dos Nossos limites pessoais e humanos, a responsabilidade imensa que Nos foi confiada: Oh profundidade da sabedoria e da ciência de Deus! Quão imperscrutáveis são os seus juízos e inacessíveis os seus caminhos! (Rm 11,33). 

O mistério salvífico que na Igreja está centrado e por meio da Igreja se exerce; o dinamismo que, por força deste mesmo mistério, solicita o Povo de Deus; a especial coesão, ou colegialidade que "cum Petro et sub Petro" une entre si os sagrados Pastores, são elementos sobre os quais nunca refletiremos suficientemente para verificarmos, baseados nas necessidades quer permanentes quer contingentes da humanidade, quais devem ser as formas de presença e as linhas de ação da Igreja mesma. Por isso, a adesão ao texto conciliar, visto à luz da Tradição e relacionado com as fórmulas dogmáticas, um século antes, formuladas pelo Concílio Vaticano I, será para nós todos, Pastores e fiéis, o segredo duma orientação segura e também um estímulo propulsor para caminharmos — repetimo-lo — na direcção da vida e da história.

Através da Igreja, o Mistério da Encarnação permanece presente para sempre. Cristo continua a caminhar nos tempos e em todos os lugares. Permaneçamos unidos, na oração e Eucaristia cotidiana… Animamos assim a Igreja e toda humanidade… Antes de expressar meus sentimentos, quero dizer que estarei próximo a vocês na oração, especialmente nos próximos dias. Que o Senhor lhes mostre o que quer de nós.  Obrigado de coração! Estou realmente tocado e vejo a Igreja hoje preocupada com os caminhos que tem tomado. Como o apóstolo Paulo, no texto bíblico escutado, também eu sinto, no meu coração, o dever de agradecer sobretudo a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a Sua Palavra e assim alimenta a fé no Seu povo. Neste momento, a minha alma se expande para abraçar toda a Igreja no mundo.

Mesmo me deparando com o atual momento da Igreja, e já reconhecendo que sou incapaz de prosseguir nesta missão, me sinto entusiasmado em motiva-los mesmo que seja através da oração e me guardando num silêncio profundo, a vivermos estes tempos com fé e unidos à Igreja. Se nós ficarmos ouvindo os comentários, as especulações, podemos ficar muito confusos. Então, vamos ficar com a Igreja, sentir por dentro dela, vendo com um olhar de fé aquilo que está se passando, neste tempo, sem nos deixar amendrontar. Hoje aos 91 anos, peço ao Papa Octavius Augustus I a EMERITAÇÃO e APOSENTADORIA DEFINITIVA, com sã consciência dos meus atos, preparando-me para me apresentar diante de Deus, despojando-me dos meus desejos de poder e da pretensão de ser indispensável. Com isso, seguirei meu  ministério voltando a residir no Palácio de Farnésio, em Roma,  continuarei a serviço da igreja, com minhas preces e reflexões. A Igreja é um ser vivo, (mas) também se mantém sempre a mesma. Houve momentos de júbilo e luz, mas também momentos difíceis. houve momentos, como já houve na história da Igreja, em que os mares estiveram agitados e o vento soprou contra nós e parecia que Deus estava adormecido. 

Gostaria de deixar-vos um pensamento simples, que tenho muito no coração: um pensamento sobre a Igreja, sobre o seu ministério, que constitui para todos nós, podemos dizer, a razão e a paixão da vida. Deixo-me ajudar por uma expressão de Romano Guardini, escrita propriamente no ano em que os Padres do Concílio Vaticano II aprovaram a Constituição Lumen Gentium, no seu último livro. Diz Guardini: a Igreja “não é uma instituição concebida e construída em cima de uma mesa…, mas uma realidade viva… Ela vive ao longo do curso do tempo, em andamento, como cada ser vivo, transformando-se… Contudo na sua natureza permanece sempre a mesma, e o seu coração é Cristo”. Foi a minha experiência, ao deparar-me, na Praça São Pedro: ver a Igreja que é um corpo vivo, animado pelo Espírito Santo e vive realmente da força de Deus. 

Ela está no mundo, mas não é do mundo: é de Deus, de Cristo, do Espírito. Por isto é verdadeira e eloquente outra famosa expressão de Guardini: “A Igreja se desperta nas almas”. A Igreja vive, cresce e se desperta nas almas, que – como a Virgem Maria – acolhem a Palavra de Deus e a concebem por obra do Espírito Santo; oferecem a Deus a própria carne e, propriamente na sua pobreza e humildade, tornam-se capazes de dar à luz a Cristo hoje no mundo. Através da Igreja, o Mistério da Encarnação permanece presente para sempre. Cristo continua a caminhar nos tempos e em todos os lugares”.

Permaneçamos unidos, queridos Irmãos, neste Mistério: na oração, especialmente na Eucaristia cotidiana, e assim sirvamos à Igreja e toda a humanidade. Esta é a nossa alegria, que ninguém pode nos tirarO Evangelho purifica e renova, traz frutos, onde quer que a comunidade de crentes o escute, e acolha a graça de Deus na verdade e viva na caridade. Esta é a minha confiança, esta é a minha alegria.

O Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram ao longo da minha caminhada irmãos, Dom Gabriel Card. Orleans e Bragança; Dom Hugh Card. Calun; Dom Marcos Nunes Card. di Monsterrat; Dom Carlos Navarro, Dom Carlos Card. Ventresca, Dom Odilo P. Scherer; e Dom Joseph Ratzinger Betori fiel secretário em todo este tempo, aqui quero fazer memória ao grande amigo e pai Dom Darci Card Nicioli, meu saudoso confidente. Porém, sentindo que minhas forças estão diminuído,  e não me arrependendo de nada que fiz, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a Sua luz para tomar a decisão mais justa; não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito.

Sou simplesmente um peregrino que inicia a última etapa de sua peregrinação nesta terra, sigamos adiante com o Senhor para o bem da Igreja e do mundo.  Desejo aos meus irmãos que aqui continuam a sua jornada que possam “desfazer logo os nós que ainda impedem a Igreja de ser em Cristo, o coração do mundo, horizonte desejado e invocado incessantemente.” Rezem por mim que eu estarei rezando por vocês, até a eternidade...

In Christus,

Datum et actum Romae, in domo Decani Sacri Collegii Cardinalium, die XXII mensis novembris anno MMXXIII, Liturgicae Memoria sanctae Caeciliae, Virginis et Martyris; sub Pontificatu Otavio Augusto PP.

 Gabriel Souza Card. Giovanelli
Decani Cardinalis Sacri Colegii Cardinalis