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Carta sobre a Convivência com as Igrejas Irmãs | Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso

DOM CARLOS CARDEAL MONTANNA
POR MERCÊ DE DEUS E DA SÉ APOSTÓLICA
PREFEITO DO PONTIFÍCIO CONSELHO 
PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A todos que esta carta lerem,
graça e paz da parte de Deus, nosso Pai. 

Diante das persistentes tensões entre as Igrejas dos orbes virtuais, torna-se imprescindível suscitar uma reflexão acerca das práticas que tem sido adotadas, por esta Sé Apostólica, no que tange ao Diálogo Inter-Religioso. O propósito deste texto, portanto, é despertar a consciência dos irmãos e irmãs para uma convivência fraterna e dialogal, à luz do Concílio Vaticano I e do magistério sucessivo.

A Constituição Apostólica Conciliar "Deus est communio amoris" assevera que o convívio sadio com as diferentes Igrejas e credos implica uma cultura voltada para o diálogo. No entanto, certas atitudes, tomadas por membros da Igreja, destoam desse propósito. Não raro surgem discursos, decretos, dogmas etc., que dificultam o diálogo e criam um clima de hostilidade.

Quase sempre os embates se dão em torno de uma pretensa superioridade de um clero sobre o outro. E como justificativa, vale de tudo: desde argumentos absurdos que defendam a ideia de sucessão apostólica (o que, no contexto virtual, é ridículo) até infâmias e informações distorcidas. 

Espera-se muito que a mudança venha de uma perspectiva externa (é o outro lado que precisa mudar, não o nosso). A responsabilidade dos conflitos, então, raramente é assumida de forma interna e o que prevalece é uma falsa ideia de isenção de culpa. Mas não é assim que se constrói uma cultura de diálogo. Pelo contrário, é preciso que cada parte reconheça o seu erro. 

Diante disso, a pergunta que se deve fazer é "quais atitudes precisam ser mudadas para que haja uma cultura de diálogo entre as Igrejas?". Para respondê-la, é preciso considerar que "o diálogo é, acima de tudo, um estilo de ação, uma atitude e um espírito que guia o comportamento. Implica atenção, respeito e acolhimento para com outro...". (apud SECRETARIADO PARA OS NÃO-CRISTÃOS; 1984, n°. 29).

Destarte, para que de fato a cultura de diálogo se concretize e a paz se estabeleça entre as Igrejas, requer-se uma postura de não-agressão. É claro que divergências sempre existirão. Nem todos seguem o mesmo papa ou estão comunhão com a mesma Igreja. Mas, em meio às contradições, existem as convergências, e estas últimas é que devem ser valorizadas.

Ações como as de tirar do vocabulário termos que desqualificam e inferiorizam outras Igrejas são necessárias. O uso equivocado do vocábulo "seita", por exemplo, para designar outro clero, é carregado de sentido pejorativo. Qualquer manifestação que vise depreciar outra Igreja ou credo, deve ser descartada, caso se queira construir uma convivência fraterna. 

Por fim, vale recordarmos as palavras do Papa Pio I, em sua carta às Igrejas irmãs: "[..] ser como Cristo. Acolher, compreender, ajudar, encontrar uma solução fraterna. Estamos tão mal acostumados a agir, que esquecemos que o diálogo e a compreensão são nossas melhores ferramentas de ação. Evangelizar é ter compaixão, compreender e ouvir. Evangelizar é se ver no seu irmão. E, portanto, ser manso e humilde de coração". 

Que nossas ações sejam proporcionadoras de uma convivência fraterna e dialogal no relacionamento com Igrejas irmãs. O que nos une deve ser maior que aquilo que nos separa. É tempo de por em prática aquilo que se tem mantido no campo das ideias. Mais amor, menos ódio.

Dado e passado em Roma, junto a São Pedro, aos 30 dias do mês de março do Ano Santo Mariano de 2023, sob o pontificado do Papa Lúcio, Pontífice Máximo. 


Dom Carlos Cardeal Montanna
[2] SECRETARIADO PARA OS NÃO-CRISTÃOS. A Igreja e as outras Religiões: Diálogo e Missão.