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Breve Apostólico | Sobre a Concelebração do Sacrifício de Cristo


DOM TOMÁS DE ALCÂNTARA E BOURBON
POR MERCÊ DE DEUS E DA SÉ APOSTÓLICA
CARDEAL DIÁCONO DE SANTA MARIA IN AQUIRO
PREFEITO DA CONG. DO CULTO DIVINO 
DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS

Roma, 17 de Dezembro de 2021.

O homem deveria tremer, o mundo deveria vibrar, o Céu inteiro deveria comover-se profundamente quando o Filho de Deus aparece sobre o altar nas mãos do sacerdote. ( São Francisco de Assis.)

Em primeiro lugar, estando aqui a Igreja, aqui está o Espírito Paráclito, prometido por Cristo aos seus Apóstolos para a edificação. «...Pedirei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador para que fique sempre convosco, o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis; porque habita convosco, e estará entre vós ...». Bem sabemos que são dois os elementos que Jesus Cristo prometeu e enviou de maneira diversa, ambos destinados à continuação da sua obra, à extensão no tempo e no espaço do reino por ele fundado. Da humanidade remida farão a sua Igreja, o seu Corpo místico, a sua plenitude, na expectativa do seu regresso definitivo e triunfal na consumação dos séculos: estes elementos são o apostolado e o Espírito. O apostolado é o agente externo e objectivo, forma o corpo por assim dizer material da Igreja, dá-lhe as suas estruturas visíveis e sociais; o Espírito Santo é o agente interno, que influi no interior de cada pessoa, como influi na comunidade inteira, animando, vivificando e santificando.

Em segundo lugar, é necessário que o sacerdote celebre a Missa com respeito e devoção. Sabe-se que o uso do manípulo foi introduzido, para que o padre enxugasse as lágrimas; porque outrora tais sentimentos de devoção experimentavam os sacerdotes, ao celebrarem, que não faziam senão chorar. Já dissemos que o padre ao altar é o representante do próprio Jesus Cristo, como escreveu São Cipriano. É nesta qualidade que diz: Hoc est corpus meum; hic est calix sanguinis mei.

Em terceiro lugar, depois da celebração do Santo Sacrifício, é necessário render graças a Deus. Esta acção de graças deve estender-se ao dia inteiro. Exigem os homens que lhes sejamos reconhecidos e correspondamos aos mínimos favores que nos fazem, nota São Crisóstomo; quanto pois não devemos ser reconhecidos a Deus, que de nós espera, não uma retribuição, mas um ato de agradecimento, e isso somente para nosso bem! Se não podemos, ajunta ele, agradecer-Lhe na medida da Sua dignidade, agradeçamo-Lhe ao menos o quanto pudermos.

O CMSPX (Catecismo Maior de São Pio X), nos diz evidentemente o que é o Santo Sacrifício da Missa:
§ 1º. – Da essência, da instituição e dos fins do Santo Sacrifício da Missa.
653) É o Sacrifício da Missa o mesmo que o da Cruz?
Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece pelas mãos dos sacerdotes, seus ministros, sobre os nossos altares, mas quanto ao modo por que é oferecido, o sacrifício da Missa difere do sacrifício da Cruz, conservando, todavia, a relação mais íntima e essencial com ele.

O padre que não está compenetrado da grandeza do sacrifício da missa, jamais o oferecerá como deve. Nada fez de maior na terra Jesus Cristo. É a missa a acção mais santa e mais agradável a Deus que se pode realizar, tanto em razão da Vítima oferecida, que é Jesus Cristo, Vítima duma dignidade infinita, como em razão do sacrificador principal, que é o mesmo Jesus Cristo, a oferecer-se pela mão dos sacerdotes, como no-lo ensina o Concílio de Trento. E São João Crisóstomo diz paralelamente: Quando virdes o sacerdote a oferecer o sacrifício, não penseis no padre, representai-vos antes a mão de Jesus Cristo que obra dum modo invisível.

Também o IGMR nos dá uma bela idéia do que é a missa concelebrada:
II. MISSA CONCELEBRADA
199. A concelebração, que manifesta convenientemente a unidade do sacerdócio e do sacrifício, bem como a unidade de todo o povo de Deus, é prescrita pelo próprio rito: na ordenação de Bispo e de Presbíteros, na bênção de Abade e na Missa do Crisma.
Além disso, se recomenda, a não ser que o bem pastoral dos fieis exija ou aconselhe outra coisa:
a) na Missa vespertina na Ceia do Senhor;
b) na Missa de Concílios, Reuniões de Bispos e de Sínodos;
c) na Missa conventual e na Missa principal nas igrejas e oratórios;
d) nas Missas de reuniões sacerdotais de qualquer tipo, seja de seculares seja de religiosos.
Contudo, a cada sacerdote é permitido celebrar a Eucaristia de forma individual, mas não no mesmo tempo, em que na mesma igreja ou oratório, se realiza uma concelebração. No entanto, na Quinta-feira, na Ceia do Senhor e na Missa da Vigília pascal, não é permitido oferecer o sacrifício de modo individual.

Observando as últimas concelebrações que, de alguma forma não deram a devida atenção ao sacrifício da Missa, aprouvemos as seguintes determinações que devem serem seguidas com afinco e fidedignidade:
I. O padre ou bispo que for concelebrar a Santa Missa, porém, terá que sair antes do término da celebração, seja impedido de concelebrar a Missa.
 — De acordo com o Catecismo, “os frutos dos sacramentos (…) dependem da disposição de quem os recebe” (CCC 1128). Há um poder nos sacramentos em si mesmos, mas o quanto desse poder infiltra-se em nossas almas e melhora nossas vidas depende de nossa disposição. Se estamos saindo da igreja depois da comunhão, é provável que não estejamos conscientes de que estamos consumindo o corpo, o sangue, a alma e a divindade do próprio Deus. É coisa pesada. E merece uma disposição de grande respeito, ainda que seja porque todos precisamos de toda a graça que podemos obter.

II. Seja, antes da Celebração da Santa Missa, preparado todos os objectos Litúrgicos em seus devidos lugares e também o rito da Missa; para que, no momento da celebração, não haja inconveniências e interrupções.
 — Catecismo da Igreja Católica (CIC), no n° 1324, diz que a Eucaristia é a fonte e ápice de toda a vida cristã. O Catecismo no n° 1326 ainda continua: pela Santa Missa, nós nos unimos à Liturgia do céu e antecipamos a eternidade. Para que seus efeitos sejam aproveitados, é necessário que haja uma preparação prévia tanto por parte daqueles que organizam suas devidas partes litúrgicas, quanto dos demais que participam como fiéis.

III. No momento da Comunhão, banquete nupcial de Cristo no altar, os concelebrantes deverão formar uma fila atrás do celebrante por Ordem Hierárquica, para que não hajam divergências nem atritos tendo o Corpo de Cristo sob o altar.
— Catecismo da Igreja Católica (CIC), no n° 1329, nos dá uma breve ressalva sobre a Eucaristia: Ceia do Senhor, porque se trata da ceia que o Senhor comeu com os discípulos na véspera da sua paixão e da antecipação do banquete nupcial do Cordeiro na Jerusalém celeste. Fracção do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como chefe de família, sobretudo aquando da última ceia. É por este gesto que os discípulos O reconhecerão depois da sua ressurreição e é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão as suas assembleias eucarísticas. Querem com isso significar que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com Ele e formam um só corpo n'Ele.

É pois o sacrifício da missa a obra mais santa e agradável a Deus, como acabamos de ver; é a obra mais capaz de aplacar a cólera de Deus contra os pecadores e abater as forças do inferno; é a obra que obtém graças mais abundantes para os homens na terra, e maior alívio para as almas do Purgatório; é finalmente a obra a que está ligada a salvação do mundo inteiro, segundo o pensamento de Santo Odon, abade de Cluni. E Timóteo de Jerusalém diz que é à missa que a terra deve a sua conservação; a não ser ela, os pecados dos homens a teriam há muito aniquilado.

Segundo São Boaventura, em cada missa faz o Senhor ao género humano um benefício não inferior ao que lhes dispensou, fazendo-se homem. O que é conforme com a célebre exclamação de Santo Agostinho: Ó dignidade venerável a dos sacerdotes, entre cujas mãos o Filho de Deus encarna, como encarnou no seio da Virgem! De mais, não sendo o sacrifício do altar senão a aplicação e renovação do sacrifício da cruz, Santo Tomás ensina que, para o bem e salvação dos homens, tem cada missa toda a eficácia do sacrifício da cruz. E São João Crisóstomo escreveu: A celebração da missa tem o mesmo valor que a morte de Jesus Cristo na cruz. A Igreja plenamente confirma esta verdade, quando diz nas suas orações: Cada vez que se celebra no altar a memória deste sacrifício, renova-se a obra da nossa redenção. De fato, ajunta o Concílio de Trento, o mesmo Redentor, que se ofereceu por nós na cruz, é quem se oferece no altar por ministério dos sacerdotes.

Numa palavra, segundo a expressão do profeta Zacarias, é a missa o que há de mais excelente e belo na Igreja: Que há de bom, que há de belo, senão o pão dos escolhidos e o vinho que gera virgens? No sacrifício da missa, dá-se Jesus Cristo a nós, mediante o sacramento do altar, que é o fim e consumação de todos os outros sacramentos, como ensina o Doutor angélico. Razão tem pois São Boaventura em chamar à missa o resumo de todo o amor divino e de todos os benefícios de que o Senhor há cumulado os homens. Eis por que o demónio sempre se tem esforçado por arrebatar ao mundo a santa missa por meio dos hereges, como por tantos outros precursores do Anticristo que, antes de tudo, cuidará de abolir e de fato abolirá, em punição dos pecados dos homens, o sacrifício do altar, segundo esta profecia de Daniel: Por causa dos pecados, ser-lhe-á dada força contra o sacrifício perpétuo.

Por fim, que todos estejam cientes destas regras para que não hajam mais abusos litúrgicos e nem profanações quando o Corpo de Cristo estiver exposto sobre o altar.

Dado e passado no Brasil, na Cúria Metropolitana de São Salvador da Bahia de todos os Santos, aos dezessetes dias do décimo segundo mês do ano da graça de Nosso Senhor de dois mil e vinte e um.

Prefeito