Mas também nos faz pensar naqueles irmãos e irmãs que vivem a consagração secular no mundo, alimentando o fogo baixo e duradouro no local de trabalho, nas relações interpessoais, nas reuniões das pequenas fraternidades; ou, como sacerdotes, num ministério perseverante e generoso, sem colocar-se em evidência, entre o povo da paróquia.
Um pároco de duas paróquias, aqui na Itália, me dizia que tinha muito trabalho. “Mas tu és capaz de visitar todas as pessoas?”, eu disse. “Sim, eu conheço todas!” – “Mas tu sabes o nome de todos?” – “Sim, até os nomes dos cães das famílias”. Este é o fogo brando que traz o apostolado à luz de Jesus.
Caros irmãos Cardeais, na luz e no poder deste fogo, caminha o Povo santo e fiel, do qual fomos tirados nós, daquele povo de Deus, e ao qual fomos enviados como ministros de Cristo Senhor. O que esse fogo duplo de Jesus, , o fogo ardente e o fogo brando, diz em particular a vós e a mim? Penso que nos recorde que um homem de zelo apostólico é animado pelo fogo do Espírito para cuidar corajosamente das coisas grandes e pequenas, pois “non coerceri a maximo, contineri tamen a minimo, divinum est”. Não se esqueçam: isso traz São Tomás na Prima Primae. Non coerceri a maximo: ter grandes horizontes e grande desejo de coisas grandes; contineri tamen a minimo, é divino, divinum est.
Um Cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo espiritual, tanto nas grandes questões como nas pequenas; tanto no encontro com os grandes deste mundo, como com os pequenos, que são grandes diante de Deus. Estou a pensar, por exemplo, no Cardeal Di Montserrat, justamente famoso pelo seu olhar aberto para apoiar, com diálogo sábio, os novos horizontes da Europa. Lembro-me do Cardeal Dall Osto, chamado a pastorear o Povo de Deus em outro cenário crucial do século XXI (Arquidiocese de São Paulo), e ao mesmo tempo animado pelo fogo do amor de Cristo para cuidar das ovelhas daquele pequeno rebanho. Essas pessoas não tinham medo do “grande”, do “máximo”; mas também tomavam o “pequeno” de cada dia. A grande diplomacia e a pequena coisa pastoral. Este é o coração de um padre, o coração de um Cardeal.
Queridos irmãos e irmãs, voltemos com o olhar para Jesus: só Ele conhece o segredo desta humilde magnanimidade, desta força branda, desta universalidade atenta ao detalhe. O segredo do fogo de Deus, que desce do céu, iluminando-o de um extremo ao outro e que cozinha lentamente a comida das famílias pobres, dos migrantes ou dos sem-abrigo. Jesus quer lançar este fogo sobre a terra também hoje; ele quer acendê-lo novamente nas margens das nossas histórias diárias. Ele chama-nos pelo nome, cada um de nós, nos chama pelo nome: não somos um número; olha-nos nos olhos e pergunta a cada um: "posso contar contigo?” Aquela pergunta do Senhor.
E não quero acabar sem uma recordação dos Cardeais Dom Frei Daniel Leão Braschi, e Dom Gabriel Orleans e Bragança, que em inúmeras vezes foram meus confessores, conselheiros, a magntude da simplicidade de ambos, mesmo, possuindo um carisma diferenciado, mais que enriquece a Igreja e seu apostolado, me dá ânimo para continuar nesta missão, mais uma vez retornando a este cargo. Espero amados irmãos neste colégio que possamos fazer um bom trabalho, errar é humano e eu assim como todos vós estamos propicíos a estes erros, na nossa pequenez. A prudência é algo que diz respeito à razão, em sua função prática, aplicando à ação singular os princípios morais. O que muitos não compreendem é a real importância da segunda parte da frase do poeta londrino: “perdoar é divino”. É neste ato que verdadeiramente nos aproximamos do divino, do ideal de Deus, para nós.
𝔄gradecer ao Pai que está nos céus pela amorosa assistência que sempre reserva a sua Santa Igreja e em particular pelo luminoso Pontificado que nos concedeu com a vida e as obras do 12º Sucessor de São Pedro, o amado e venerado Pontífice Ótavio Augusto I, ao qual neste momento renovo toda a minha gratidão.