DOM JOSEPH EUGÊNIO RATZINGER CARDEAL GHISLIERI
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
CARDEAL-DIÁCONO DE SÃO PIO V
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
BISPO DA ADMINISTRAÇÃO APOSTÓLICA SÃO JOÃO MARIA VIANNEY
Fidem expressit.
Hoje há uma dificuldade imensa qual
está submergida a sociedade e a Igreja para se expressar a fé, por vezes se
encontra em uma alusão de que fé é aquilo que está além das capacidades humanas
qual é impossível ver e expressar, pois a mentalidade humana não tem a capacidade
intelectual ou cognitiva para tal ato de expressão.
O ser humano é integro em suas
capacidades, isto é o que também pede para santificar e edificar, quando São Paulo
está a rezar, para que seja “santificado tudo o que sois corpo, alma e espírito”
(Cf. I Ts 5,23). Sendo assim, é impossível que se dissipe uma coisa da outra,
não podemos rezar apenas com a alma e o espírito, pois ainda usamos nosso
corpo, nossa palavra, a luz de nossos sentimentos e expressões, como a de nossa
razão para poder melhor se exprimir e direcionar o momento.
A queda da cultura, da arte, da
música e expressões de hoje, tomaram rumos de uma sociedade que se desconhece e
está sendo conduzida pelas aparências e pelas vaidades, pelas necessidades de
suas carências e a ilusão de um mundo positivista sem existência de mal. Isto
tomou parte de tal modo em meio a sociedade, que mesmo na evidência da doença
que faz perecer o mundo se nega em nome de uma aceitação de toda e qualquer
realidade, fazendo assim tudo se tornar relativo a suas próprias vontades e percepções.
Cristo, verbo encarnado, quando é
encarnado no seio da Virgem Maria por meio do Espírito Santo (Cf. Lc 1), está presente
por inteiro ali. Mas, em nenhum momento isto estava separado, sua humanidade de
sua divindade, exemplo disto é que quando sobem ao Monte das Oliveiras e o
Cristo vai ao Getsêmani, o Cristo reza com aquilo que está sentindo naquele
momento em sua humanidade, porém se decide pela vontade do Pai (Cf. Mt 26,39).
Do mesmo modo São Pedro, chefe dos
Apóstolos e primeiro Sumo Pontífice da Igreja e vigário de Cristo na terra,
exortava para que pudessem compreender e expressar a fé (Cf. I Pd 3,15). Do mesmo
modo, não podemos cair no fideísmo ou em um racionalismo puro, mas devemos
compreender a razão na luz da fé, que as duas podem se conciliar, assim como a
Fé pode se expressar através da razão.
Todo o mistério não foi feito para
ser compreendido e expressado, nem sempre é importante que apenas se saiba o
que está fazendo e tudo seja racionalizado e entendido por todos, por exemplo o
sacrifício da Santa Missa, antes de ser compreendido em sua totalidade do rito
e espiritual, é proposto a intimidade, a união com Senhor, sendo isto que se
deve viver.
Não se pode negar a fé em nome da
razão, mas também não se pode negar a razão em nome da fé; a fé é expressa em
nosso cotidiano e na vivência do homem, em sua conduta ética, moral,
espiritual, caritativa, na razão, na cultura e afins. Logo, é do saber que deve
haver um equilíbrio entre as duas, para que não se renuncie a alguma e caia em
alguma heresia condenada pela Igreja.
O homem se expressa em suas
relações, em seus sentimentos, emoções, nos fatos que ocorrem, concebe informações
e emite opiniões a seu respeito, a fé não está separada disto e é perante a sua
realidade e a luz do entendimento, com inteligência e por meio do Espírito
Santo que concede a sabedoria, o homem possa expressar este Amor, a graça de
Deus que transcende a existência humana e toda história, que envolve todo o
ser.
Como na fé vemos a diversidade de
dons e carismas, mas todos somos membros deste corpo que é a Igreja, que têm o
Cristo por cabeça (Cf. I Cor 12). A expressão de nossa fé também acontece na
diversidade de carismas, que o Espírito suscita na Santa Igreja e mesmo na
diversidade nos faz um só povo unidos em Cristo (Cf. At 4,32).
Com esta carta, a intenção é suscitar
em nós esta abertura ao Espírito Santo, para que como os discípulos de Emaús na
abertura do coração, possamos nos revigorar em Cristo escutando a Boa Nova e O reconhecendo
ao partir do pão (Cf. Lc 24,13-35), para assim que assim a Igreja com o coração
ardente e os pés a caminho, possa voltar a se expressar com liberdade em
Cristo, para anunciar a Verdade a todos os povos, na luz das adversidades que
se apresentam nos dias de hoje, para que superando as dificuldades atuais da
Igreja e da sociedade no voltemos em união de um só coração e uma só alma que
se dirige a Deus.
In Christus,
Datum Romae dies, apud Congregationem pro Doctrina Fidei, die XXVIII mensis Iunii, anno MMXIIII, sub corona Sanctitatis Suae Summus Pontifex Ioannes Paulus II.