PAPA JOÃO PAULO II
Queridos irmãos e irmãs, boa noite!
Hoje gostaria de chamar a atenção para
um tema extremamente importante, porém, muitas vezes negligenciado: a vocação
sacerdotal e religiosa. Antes de tudo, é importante esclarecer que vocação
é um termo que deriva do latim “vocare” que significa “chamar”. Em
outras palavras, vocação é um chamado de Deus. Este chamado, geralmente, não é
um acontecimento extraordinário, a partir de uma visão repentina ou coisa
análoga (há exceções, é claro, como aconteceu na vida de alguns santos), mas
algo que se dá na vida diária, a partir de um processo gradual de
discernimento.
No evangelho há pouco proclamado, temos uma ilustração de como acontece esse chamamento. O cenário é o Mar da Galileia. Os irmãos Simão, André, Tiago e João estavam ocupados em suas atividades pesqueiras. Jesus, margeando o Mar da Galileia, encontra-os na labuta e os chama para o discipulado: "Sigam-me, e eu farei de vós pescadores de homens" (Mt 4, 19). Sem hesitação, os primeiros discípulos de Jesus deixam tudo para segui-Lo. O chamado de Deus acontece da mesma forma conosco. É em nosso trabalho, nas nossas ocupações cotidianas, nas experiências mais corriqueiras, que Deus age e realiza o Seu chamado. Não raro, Ele se utiliza de instrumentos e pessoas para fazê-lo.
Em nossa realidade habbliveana, geralmente, surge-nos a inquietação de como atrair as pessoas para vida sacerdotal e religiosa. Em tempos de escassez de vocações, impera, sobretudo em nosso meio eclesial, um sentimento de impotência que nos imobiliza. Ficamos sem saber o que fazer e por onde começar agir. O Papa Francisco, em um de seus discursos¹, destaca três atitudes, que podem nos ser muito úteis: sair, ver e chamar.
Primeira atitude: sair. Tal como Jesus que “sai pelas estradas e põe-se a caminho” (Lc 9, 51), precisamos ser uma Igreja em movimento, capaz de ir além dos limites da sacristia ou de nossos templos. Segundo o Papa Francisco (Exort. ap. Evangelli gaudium, 33), “não pode haver uma sementeira frutuosa de vocações se ficarmos simplesmente fechados no «confortável critério pastoral do ´sempre se fez assim´, sem «ser audazes e criativos nesta tarefa de reconsiderar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das próprias comunidades»”. É preciso sair da nossa zona de conforto e da "comodidade de nossas próprias seguranças". Não existe cristianismo estático. Isto vale, sobretudo, para nós, pastores da Igreja, principais responsáveis das vocações religiosas e sacerdotais. “É triste quando um sacerdote vive só para si mesmo, fechando-se na fortaleza segura do presbitério, da sacristia ou do grupo restrito dos fidelíssimos”, alerta o Papa Francisco. O padre é chamado a estabelecer uma relação estreita com o povo, a exemplo do Bom Pastor, que conhece suas ovelhas pelo nome. Só assim que conseguiremos atrair novas vocações para a Igreja.
Segunda atitude: ver. Ao passar pelas estradas, Jesus para e estabelece um contato visual com o outro, sem pressa. O que muitas vezes acontece, infelizmente, é que ignoramos os sinais daqueles que procuram fazer parte da Igreja, porque não queremos nos comprometer em dar as primeiras orientações. Deixamos para que o outro faça, aquele que está nomeado, que tem mais tempo... raramente procuramos ser agentes vocacionais. O evangelho, exorta o papa Francisco, revela-nos que a vocação começa com um olhar de misericórdia que pousa sobre cada um de nós. Foi assim que Jesus olhou para os seus discípulos.
Terceira atitude: chamar. Já dissemos que a vocação é um chamado de Deus. E o Mestre não faz discursos longos e cheios de emoção, mas simplesmente diz: SEGUE-ME! Faço um apelo a todos vós bispos e sacerdotes: não tenham medo de propor, aos jovens e fieis de suas igrejas, o caminho da vida sacerdotal e religiosa, mostrando, antes de mais nada, com o vosso testemunho, que é bom seguir Jesus e anunciar a Sua mensagem libertadora. Sedes pastores que saem em missão, que veem com misericórdia e que chamam novos operários para trabalharem na messe do Senhor.
Enviai Senhor operários para a vossa messe, pois a messe é grande e poucos são os operários! (Lc 10, 2).
NOTAS
[1] PAPA FRANCISCO. Discurso aos participantes do Congresso Internacional da Pastoral Vocacional. Roma: 21 de outubro de 2016.