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Reflexão Dominical sobre o Evangelho | IV Domingo do Tempo Comum



DOM PETER CARDEAL TURKSON
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO
 E DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS

 Caríssimos irmãos e irmãs, louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Nós temos toda a liturgia de hoje, tanto na primeira quanto na segunda leitura, quanto o próprio Salmo responsorial em função desse delírio de apegar-se aos bens materiais e voltar às costas para Deus. E julgar que a felicidade suprema se tem na face da terra, apegando-nos nós às coisas daqui.
E não é verdade! 
Pois o salmo nos diz: ''Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus''.
E começa o Sermão da Montanha, Nosso Senhor dizendo exatamente isto.
"Pobres em espírito'' são aqueles que, tendo dinheiro ou não tendo, dão mais valor a Deus que aos bens materiais.
Esses são os pobres em espírito. Para eles, pouco importa ter dinheiro ou não; o que importa, isto sim, é ter ou não ter a Graça de Deus; é viver em função e ser entregue a Deus.
Este é justamente o problema que foi introduzido pelo pecado original, porque, a partir do momento em que o homem peca, acabou a inocência.
E, portanto, pobreza em espírito é não abraçar e não aceitar as inclinações para o mal; não abraçar e não aceitar as sugestões do demônio, portanto, não pecar.
Seguem-se depois uma série de outras bem-aventuranças que são desfiadas por Nosso Senhor; mas, todas elas se sintetizam e se resumem nesta primeira: ''Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus''.

Depois, se segue: ''Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados''.
Claro, quem é aflito por amor a Deus, não deixará de receber o auxílio de Deus, e será consolado.

''Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra''.
Sim, porque quem é mando e quem não está a toda hora brigando com todo mundo, e quem não está com o temperamento agitado e irritado, mas, o manso, este sim tem tudo à sua disposição.

 ''Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados''. 
Sim, pois Deus não deixa de dar a água da justiça e o alimento da justiça àquele que é justo.

''Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia''.
Com a medida com que medirdes sereis medidos... é isto. Aqueles que têm misericórdia, que perdoam os outros com facilidade, esses serão perdoados pelo Senhor.

''Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus''
Puros de coração. Não é só pureza, castidade... é a pureza de intenção, é ter um coração reto.
E estes veem a Deus aqui. Porque quem tem um coração puro de maldades, quer dizer, postas as maldades e as ganâncias todas fora, esse que tem uma retidão de coração, vê como é o trabalho da Graça nos outros, e vê a ação de Deus aqui, lá e acolá. E, portanto, já vê a Deus aqui fora, depois o que se verá na visão beatífica.

''Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus''.
Claro, porque todos aqueles que querem a verdadeira paz - a tranquilidade da ordem -, as almas todas em união com Deus, estes são filhos de Deus.
Depois se seguem outras bem-aventuranças:

''Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus''.
''Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim''.
Pois é evidente, tal será que Nosso Senhor Jesus Cristo não vai tomar o partido destes que tomam o partido d'Ele.
''Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

E nós então estamos mais uma vez dentro dessa perspectiva, que esta liturgia ainda hoje acentua, que é o estado de prova. Estamos na Terra para sermos provados, e estamos aqui para vermos se, de fato, amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
E se nós, de fato, nos entregamos a Deus, para que no fim desta prova façamos uma grande e eterna viagem, a viagem para o Céu, ou para o Purgatório. Mas, que não seja, de maneira alguma, a viagem para o inferno, porque esta sim é que é terrível, e não tem volta atrás.
E sem em nenhum momento falar desta escatologia, desse final da humanidade e final próprio, pessoal, que é a nossa morte, está dito aqui quais são os prêmios que têm aqueles que seguem a Lei de Deus e aqueles que não se apegam aos bens materiais, mas que, isto sim, põe todo o seu empenho em seguir o espírito, a vontade, o chamado de Deus.
Quer seja na vida religiosa, ou em qualquer outra vocação, pois todos nós, batizados, somos chamados a isto que está aqui descrito hoje. Cada um no seu ambiente e na sua vida.

Peçamos, portanto, ao Senhor, por intermédio da Santíssima Virgem Maria, a Graça de sermos felizes, bem-aventurados, pois só o seremos de fato, seguindo os preceitos que hoje a liturgia nos apresenta.

Que em tudo seja Deus glorificado.

Datum Romae, die XXIX mensis Ianuarii anno Domini MMXXIII, sub corona Lvcivs, Pontificis Maximi.


                                                            + 𝒫ℯ𝓉ℯ𝓇 𝒞𝒶𝓇𝒹. 𝒯𝓊𝓇𝓀𝓈ℴ𝓃