1. A voz
que clama no deserto, é assim que São João Batista se autodenomina no Evangelho
de João, parafraseando a palavra do profeta de Isaías. Durante toda sua vida procurou
cumprir a vontade de Deus, exilou-se no deserto, alimentando-se de gafanhotos e
mel silvestre (Mc 1,6), e mortificando-se com rigorosas penitências.
2. É sabido que esta egrégia Congregação para a Doutrina da Fé, é incumbida de dar, mas não limitando-se a isto, o responsum a um dubium de fé ou moral, reafirmando os ensinamentos da Santa Igreja e defendendo a verdade revelada por Cristo através do Magistério e da Tradição Apostólica. Urge-se, porém, em nossa realidade virtual, que a supracitada congregação também alimente os fiéis e clérigos com cartas, decretos ou qualquer outro veículo de comunicação, que esclareçam alguns princípios substanciais para a nossa fé católica, recordando-nos da mensagem evangélica e guiando a Igreja em concomitância com os ensinamentos apostólicos.
3. Neste
mês de setembro, a Santa Igreja comemora o mês da Bíblia, onde somos chamados a
voltarmos os nossos olhares à Palavra de Deus, que muitas vezes é esquecida e
não posta em prática. As Sagradas Escrituras são um dos pilares fundamentais
que sustentam a nossa fé, é o próprio Deus que fala conosco através dos seus profetas
e apóstolos e torna-se, consequentemente, inerrante e isenta de toda mácula,
pois a Palavra do Senhor é Espírito e Vida (Jo 6, 63). “Ler a Escritura na ‘tradição
viva de toda a Igreja’. Segundo uma sentença dos Padres, ‘Sacra Scriptura
principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis scripta’
– ‘A Sagrada Escritura está escrita no coração da Igreja, mais do que em
instrumentos materiais’ (87). Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a
memória viva da Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que lhe dá a
interpretação espiritual da Escritura ‘secundum spiritualem sensum quem Spiritus
donat Ecclesiae’ ‘segundo o sentido espiritual que o Espírito Santo dá à
Igreja’” [1].
4. Ao
lermos as Sagradas Escrituras, observamos a venerável presença de São João
Batista, vox clamantis in deserto, sendo o mensageiro de Cristo, João Batista não
era a luz, mas era testemunha da luz, pois anunciava o Verbo Encarnado que
viria para salvar todo o gênero humano. Pregava no Rio Jordão, atraía a atenção
de multidões e batizava aqueles que se mostravam arrependidos de suas
iniquidades e dispostos a seguirem uma vida nova. Foi confrontado pelos
fariseus, doutores da Lei, que o indagaram pensando ser ele o Messias, contudo,
o profeta humildemente respondeu: “Eu não sou o Cristo” (Jo 1, 20) e prosseguiu
dizendo: “Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis.
Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do
calçado” (Jo 1, 26-27).
5. Com efeito, Nosso Senhor, em virtude de sua união hipostática, é muito superior a João Batista e a todos os seres, porém, é salutar lembrarmos que João Batista é o único santo, juntamente com a Bem-Aventurada Virgem Maria, do qual a liturgia celebra solenemente a sua natividade. Isso se dá pelo fato de estar intimamente ligado ao mistério da Encarnação de Jesus. Na própria oração do Santo Terço, de venerável e digna devoção, contemplamos, nos mistérios gozosos, a visita de Nossa Senhora à Santa Isabel, mãe de João Batista, onde este, ainda no ventre de Isabel, estremeceu de alegria ao reconhecer a presença do Espírito Santo na pessoa de Maria.
6. Sob o olhar bíblico, constatamos o destaque que os quatro evangelhos dão a João Batista, porquanto ele é o vínculo entre o Antigo e o Novo Testamento, sendo ele o último profeta, anuncia Jesus Cristo e reconhece que Ele é o Consagrado de Deus. No dia de sua circuncisão, seu pai, o sacerdote Zacarias, disse: "E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho, para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados" (Lc 1, 76).
7. São
João Batista, em suas pregações, imbuído da missão profética e de preparar os
homens para a chegada do Filho de Deus, também não hesitava em repreender a
vida desregrada e escandalosa do governador Herodes, que havia sequestrado sua
cunhada Herodíades e vivia com ela como sua esposa. Como resultado, foi preso
pelo governador em Maqueronte, localizada na margem oriental do Mar Morto. Salomé,
filha de Herodíades, encantou Herodes com sua dança e obteve o direito de
possuir qualquer coisa que ela desejasse, e atendendo a vontade vingativa de
sua mãe, disse: “Quero que sem demora me dês a cabeça de João Batista” (Mc 6,
25). Deste modo, ele foi decapitado e recebeu o Santo Martírio por sua imensurável
fidelidade à vontade de Deus.
8. Através da oração, da penitência – que muito bem fazia São João Batista – da leitura das Sagradas Escrituras e da caridade, podemos, verdadeiramente, colocar Cristo como centro de nossas vidas, ocupando um lugar em nosso coração do qual apenas Ele detém a hegemonia, de modo que “Ele cresça e eu diminua (Jo 3, 30”. A conversão é um exercício diário, precisamos todos os dias reafirmamos nosso compromisso com a edificação do Corpo de Cristo, nosso compromisso para com o próprio Deus que nos escolheu para anunciarmos a Verdade: "Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações" (Jer 1, 5).
9. Diante deste entendimento, podemos afirmar que Ele esteve e estará conosco em todos os momentos de nossa vida e por isso, precisamos retribuir este amor infinito que Deus tem por nós, apesar de sermos indignos de sua graça. Isso implica dizer que devemos evangelizar a nós mesmos para evangelizarmos o próximo, precisamos cultivar a presença do Espírito Santo para nos guiar no anúncio, e a exemplo de João, estarmos sempre atentos à doce voz do Senhor, que nos inspira todos os dias.
10. O
testemunho profético de São João Batista chama a todos nós, em especial os
sacerdotes, a anunciarmos verdadeiramente a Cristo, o Messias que salvou o
mundo através do seu Santo Sacríficio na Cruz, verdadeiro Sacrifício este que é
atualizado todos os dias através da celebração da Santa Missa. A exemplo do
profeta, precisamos ter firmeza em nossa pregação, não apenas anunciar aquilo
que é mais atraente aos limitados olhos humanos, mas, sobretudo, fazer ressoar
aquilo que São Paulo vai nos dizer: “Quem ensina de outra forma e discorda das
salutares palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, bem como da doutrina conforme
à piedade, é um obcecado pelo orgulho, um ignorante, doentio por questões
ociosas e contendas de palavras. Daí se originam a inveja, a discórdia, os
insultos, as suspeitas injustas” (1Tm 6, 3-4).
11. Mediante à realidade da Igreja do Habblive, os clérigos devem estar sempre vigilantes para não se deixarem enganar por doutrinas estranhas. Outrossim, deve-se tomar a coragem de São João Batista para anunciar aquilo que nós recebemos da Santa Igreja, Mãe e Mestra, como Revelação Divina do Pai, sem medo e sem temer o escárnio do mundo, mas confiantes na missão que o Senhor nos incumbiu de evangelizar todos aqueles que se encontram neste orbe virtual.
12. Não se evangeliza alguém distorcendo a Palavra de Deus, tirando o seu verdadeiro significando e distanciando-se da sua correta interpretação, apenas para tornar algo mais atrativo aos olhos daqueles que se encontram afastados de Deus. Precisamos, com efeito, preparar o ambiente com sementes que venham a germinar e dar bons frutos para a evangelização, de modo que tudo isso seja feito em conformidade com a Sã Doutrina da Igreja, uma vez que cremos que Ela é profundamente assistida pelo Espírito Santo e, assim como as Sagradas Escrituras, é preservada de todo os erros, tornando-se Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana. “Compreender esta mediação salvífica da Igreja é uma ajuda essencial para superar qualquer tendência reducionista. De fato, a salvação que Deus nos oferece não é alcançada apenas pelas forças individuais, como gostaria o neo-pelagianismo, mas através das relações nascidas do Filho de Deus encarnado e que formam a comunhão da Igreja. Além disso, uma vez que a graça que Cristo nos oferece não é, como afirma a visão neo-gnóstica, uma salvação meramente interior, mas que nos introduz nas relações concretas que Ele mesmo viveu, a Igreja é uma comunidade visível: nela tocamos a carne de Jesus, de maneira singular nos irmãos mais pobres e sofredores” [2].
13. Sedes corajosos, meus irmãos, pois Cristo já venceu o mundo (Jo 16, 33) e carrega conosco a nossa cruz pesada. Meditando as Sagradas Escrituras neste mês de setembro, possamos tomar como exemplo essa grande e virtuosa vida de São João Batista, modelo para todos nós de um verdadeiro testemunho da Luz. Igualmente, possamos vivenciar com fé e coragem os mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja do Habblive, de forma que sejamos autênticos católicos com o objetivo de evangelizar e catequizar corretamente a todos aqueles que têm sede e fome da Palavra de Deus.
Datvm Romae, in Pallazo Della Congregazione, die VI mensis Septembris, anno Domini MMXXI, svb coronam Benedictvs, Pontifex Maximvs.