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Carta Pastoral “Para que todos sejam um” do Papa Júlio ao Clero

 


Aos Veneráveis Cardeais e Bispos,
Sacerdotes, Diáconos e Seminaristas,
E a todo amado povo de Deus, irmãos e irmãs de boa vontade,
 saúde e bênção apostólica!

Existem períodos de nossa vida em que, tomados pelo cansaço da rotina, nos sentimos desanimados e até mesmo com sentimento de falta de sentido daquilo que estamos fazendo. Essa “secura”, se não for bem enfrentada, nos levará a desistir de tudo, fadando ao fracasso aquilo que desempenhamos.

Na Igreja não é diferente. Em nossa realidade virtual já temos passado por essa secura já a algum tempo. Parece que falta aquela animação e força de vontade de dar seguimento à vivência eclesial. Isso se dá justamente quando, somada à rotina monótona, vamos nos fechando em grupinhos e não mais sentindo como nossa obrigação o andamento do corpo eclesial. Passamos então a ser excelentes críticos, apontando o dedo para todos os possíveis culpados, mas não nos esforçamos em nada em arregaçar as mangas e assumir também como nossa a responsabilidade.


Ponto 1: A Eucaristia

Para nós, a Eucaristia é de fato o ponto central da nossa vivência de fé. Na celebração da Santa Missa, congregados como Corpo de Cristo, nos alimentamos de sua palavra, de seu corpo e de seu sangue que nos devem dar sustento na caminhada. É triste ver como muitos não se dedicam a isto. Esquecem de que o ofício principal do sacerdote, ao ser ordenado, é a celebração da Missa. Sem a Missa, nos tornaremos uma Instituição de pessoas de boa vontade; uma instituição de caridade; uma ONG; mas não a Igreja de Cristo. Perguntemo-nos: tenho me esforçado para celebrar ou participar, junto de outros irmãos no sacerdócio, da Santa Missa? Participo da Missa só quando sou obrigado ou quando me convém?

Ponto 2: A Colegialidade

Os antropólogos e sociólogos vivem a dizer que o ser humano é um ser social. E esta é, de fato, uma verdade. Não fomos criados para a individualidade e autossuficiência, mas para viver em comunidade de irmãos, em sociedade. Para nós que cremos, encontramos essa mesma resposta ao olharmos para nosso Deus: Ele que é um, é formado por três pessoas distintas. E mesmo sendo três, não deixa de ser um. É a perfeita comunidade e modelo para nossas comunidades, tantas vezes movidas mais por desejos mesquinhos e egoístas. Perguntemo-nos: tenho me interessado pelo meu irmão no clero, ou tenho apenas pensado em mim mesmo? Tenho alimentado laços de coleguismo e amizade com aqueles que trabalho junto? Ou eu só alimento relações formais e cotidianas, sem querer me comprometer com o outro? Ajudo a todos, ou só quero que me ajudem na hora que eu quero?

Ponto 3: O Ministério Sacerdotal e a Prática Pastoral

Não existe rebanho sem pastor. Ele se perderia. Pelo sacerdócio somos constituídos pastores do rebanho do Senhor. Porém, muitas vezes, resumimos nosso ministério à celebração da Missa e dos sacramentos. Logicamente, como já foi dito, eles são a roda motora de nossa fé. Porém, celebrar os sacramentos só para satisfazer a minha vontade de ser padre, sem se importar com quem está celebrando junto, não adianta de nada. Vivemos a dizer que estamos em um jogo virtual para evangelizar. Mas que evangelização fazemos se não nos importamos com os leigos? Se alguém entra na igreja e começa a atrapalhar, nossa ação é o banimento da pessoa, pois não tem como parar a celebração para tentar estabelecer um diálogo. Mas se não ofertamos nunca um momento para esse diálogo, como queremos que as pessoas entendam e participem conosco dos sacramentos? Se, além do tempo que reservamos para a Missa, não reservamos também um tempo para ouvir as pessoas, num encontro mais descontraído, como iremos laçar mais ovelhas?  Perguntemo-nos: eu me dedico a oferecer uma pastoral catequética? Eu me preocupo com as dúvidas das pessoas sobre o sentido do que estamos fazendo? Eu ofereço outros momentos, além da Missa, para debater e ensinar o catecismo e a fé da Igreja? Me preocupo com a pastoral vocacional e o seminário?


Não basta desanimar, largar tudo para o alto, e procurar o culpado pelo fracasso da Igreja. Os culpados somos todos nós, quando vivemos de maneira egoísta e individual o nosso ministério, sem se preocupar de fato com o eixo evangelizador. A Igreja não crescerá, e nem sairá da rotina, se todos os envolvidos não se comprometerem. O Papa pode ser o Pedro, o Paulo, o Leão, o Júlio, o José... Não importa. Se não tivermos senso de comunhão uns com os outros e vontade de trabalhar, de nada adiantará. 

Lembremo-nos da parábola dos talentos. O patrão concedeu a cada servo, talentos segundo as possibilidades de cada um, para que investissem e multiplicassem os dons. Ao servo que guardou o talento para si, com medo de arriscar, o patrão adverte: “Servo mau e preguiçoso!” (Mt 25, 26). Este foi lançado fora, no lugar onde há choro e ranger de dentes. A responsabilidade da Igreja é de todos nós. E se nos fechamos em nós mesmos, e não arriscamos, também seremos nós os cortados da vinha do Senhor. Perguntemo-nos: “O que estou fazendo com os talentos que recebi?”.


Vaticano, 13 de Janeiro do Ano Santo da Misericórdia de 2021.


+ Júlio Pp.
Bispo de Roma